Twitter acabou quando virou X
Ao longo do tempo, a rede perdeu relevância, acumulou lixo e ficou ainda pior quando mudou de dono.
O Twitter é parte importante na minha trajetória profissional. Experimentei muitas possibilidades de uso da rede social em muitos projetos dos quais participei, especialmente na curadoria de conteúdo e na integração com outras plataformas como forma de enriquecer posts e coberturas.
Entrei no Twitter no ano em que surgiu, em 2006. Ainda era aquela ideia de SMS, espiei e não gostei. Mas segui monitorando até que em abril de 2007, criei meu perfil oficial, o agenteinforma
. Tinha migrado do impresso para o digital em 2004 e o Twitter entrou para minha lista de interesses e de experimentações, assim como o formato de blog.
E sempre de dúvidas, sempre foi minha social preferida. Em muitos textos nos meus blogs Coluna Extra e Primeiro Digital e nas minhas palestras sobre redes sociais sempre usei - com ênfase - a expressão “Twitter + 1”.
Ou seja, qualquer estratégia de mídia digital deveria incluir o Twitter prioritariamente por causa de sua instantaneidade, facilidade de interação, praticidade na organização (por hashtags e listas) e seu valor para o chamado “jornalismo cidadão”, onde os usuários contribuem para a produção da notícia - elementos que seus concorrentes sempre buscaram e nunca alcançaram (especialmente o Facebook).
A foto abaixo representa essas características.
Foi em 15 de janeiro de 2009 que @jkrums fez história ao publicar no Twitter a foto do acidente com o avião da US Airways que havia acabado de “pousar” no Rio Hudson, em Nova York. “There’s a plane in the Hudson. I’m on the ferry going to pick up the people. Crazy”, escreveu @jkrums no tweet que é considerado pelo próprio Twitter como um dos momentos mais importantes da história do site. “É a primeira da cena, dando as más notícias antes mesmo que a mídia tradicional soubesse”.
Em 2009, lembro, muitos veículos praticamente ignoravam o Twitter e por isso mesmo “boiavam” totalmente nas possibilidades do site gerar conteúdo-cidadão relevante. Ficavam naquela de “que troço bobo, o pessoal ficar dizendo que acordou, tomou banho, café…”. É justo que o Twitter tire esta “casquinha” do “milagre do Rio Hudson”, mas o site também foi protagonista em outros fatos marcantes – antes mesmo deste episódio.
Escrevi o texto acima em post de 2016. Na época, o Twitter já havia perdido sua relevância e público. Registrei que os usuários estavam mais preocupados em dizer (muitas vezes sem ler nem pensar) do que em mostrar (como fez o usuário do Rio Hudson.
Em vez de repórter-cidadão, todos querem ser “comentarista com toda a razão” – é todo mundo especialista em tudo.
Acredito que o famoso microblog foi sendo descaracterizado ao longo do tempo (culpa do modelo de negócio que parecia não saber como viabilizar a rede comercialmente; começar grátis 100% e querer cobrar depois é uma estratégia sempre arriscada) e se tornando um ambiente ruim para usuários de primeira hora, mesmo sendo a segunda tela para canais de TV ou SAC digital para e-commerce.
O lixo foi se acumulando com perfis falsos, uso de bots para automatizar respostas e ataques de ódio, além de usuários sem escrúpulos e estar no Twitter para mim e muitos amigos (incluindo os que fiz lá) era mais uma questão apego ao passado (X é o caralho!) do que preferência real pela rede.
Todos na base do “vamos passar raiva juntos” e unidos pela necessidade de combater o que há para ser combatido (fake news, ódio, fascismo e filhadaputices em geral, sem contar anúncios de jogo do Tigrinho, bets e mais bets…).
A suspensão da rede ocorrida no sábado, dia 31, (quando escrevo este texto), por ordem do Supremo Tribunal Federal, é, como o nome diz, uma suspensão. Ou seja, pode voltar a funcionar. Mas na mão de um pilantra, não há chance de retornar diferente do que se tornou quando trocou demais. Ou seja, o Twitter, mesmo não sendo uma maravilha, acabou quando virou X…
Obrigado, Mazzola
Ninguém do selo Phillips, da gravadora Polygram, gostou daquele cantor de voz anasalada e de visual fora de moda apresentado pelo produtor Marco Mazzola. Naquela reunião, poderia ter encerrado, sem nem começar, a carreira de Belchior. Mas Mazzola, que conheceu as músicas do compositor durante a produção de “Falso brilhante”, clássico de 1975 de Elis Regina, não desistiu da ideia. E sua insistência resultou em “Alucinação”, de 1976, um dos discos mais importantes da música brasileira.
Sabe quem contou em detalhes essa história? O próprio Mazzola no segundo episódio da segunda temporada de Ouvindo Estrelas, seu canal no YouTube, que descobriu por acaso nas últimas semanas (#AlgoritmoNuncaXinguei).
No vídeo, com cerca de 25 minutos de duração, o produtor dá detalhes não só de como viabilizou o álbum, mas também detalhes técnicos de como conduziu as gravações e estratégias de lançamento do cantor, na carona do sucesso de “Como nossos pais”, na voz de Elis (uma das maiores interpretações da história da MPB).
Assista ao episódio sobre Belchior e depois de perca nas outras histórias de Mazzola que também produziu Rita Lee, Raul Seixas, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Jorge Ben, Ney Matogrosso, Alceu Valença e muitos outros, além de gringos como Frank Sinatra, Miles Davis e Paul Simon
Ouça “Alucinação”
Brincando de Belchior
“Alucinação” é um dos meus preferidos e foi o primeiro vinil que comprei quando voltei a ter toca-discos. Reúne clássicos como “Apenas um rapaz latino-americano”, “Como nossos pais”, “Velha roupa colorida”, “Sujeito de sorte”, “A palo seco”, “Fotografia 3x4”, além da faixa-título, e apresenta a essência da poesia e da música de Belchior (“aquele toque beatle” e Dylan).
É uma referência para meus momentos de compositor amador e fico feliz quando consigo “brincar de Belchior” e colocar citações aos Beatles em versos das minhas letras, como ele fez em “Medo de avião”, “Velha roupa colorida” e “Comentário a respeito de John” (minha preferida: “a felicidade é uma arma quente”).
Fiz isso em “Estamos indo”, que contei aqui. E em algumas outras, como “Cabelos soltos”, onde a música e o clipe de “Lucy in the sky with diamonds” me inspiraram.
Cabelos soltos
(Alexandre Gonçalves)
Deixe seus cabelos soltos
Pro vento soprar
Pra deixar mais leve
Te fazer flutuar
Entre as nuvens
Num céu de tranquilidade
Como fez a Lucy
Num céu de diamantes...
Deixe para trás
Toda dor, toda confusão
Que existe ao redor
E é muito maior
Dentro do seu coração
Bloquinho
Orkut em Floripa – Como falei na última edição, o criador do Orkut veio participar do Startup Summit ali no Centro Sul. E o que ele disse na palestra mais aguardada do evento? Está no texto que publiquei no Terra. Acesse pelo agente.no.terra.
“Rock das Lasanha” – A Rangones, de Brusque, é uma das bandas mais originais do rock catarinense com seu repertório de versões gastronômicas para músicas dos Ramones. Agora, eles chegam com uma paródia para “Rock das Aranhas”, clássico do Raul, que com os Rangones virou “Rock das Lasanha”. Assista ao clipe.
15 anos do Rock SC – No repertório da Rangones também tem “Acabou a margarina” (pérola), da também brusquense Cummings, que foi uma das descobertas mais legais, divertidas e curiosas que encontrei e publique nos três anos de Rock SC, onde eu fazia curadoria de clipes de bandas de Santa Catarina, e que neste mês de setembro, se estive “vivo”, completaria 15 anos de existência. Ideia simples, de curadoria de conteúdo, com pesquisa no YouTube e organização de conteúdo numa plataforma de blog e que cumpriu seu papel de apoiar a música catarinense.
Contato - Para enviar comentários, críticas, elogios, lembranças, releases e sugestões de pautas o e-mail de contato é agenteinforma@gmail.com.
Até a próxima edição.